Reflexão de Dom Armando na Festa do Bom Jesus


06 de Agosto de 2012
SOLENIDADE DO Senhor Bom Jesus
Leituras
Dn 7,9-10.13-14; 
Sl 96 (97),1-2. 5-6. 9; 
2Pd 1,16-19; 
Mt 17,1-9
HOMILIA
Irmãs e irmãos amados em Cristo ressuscitado nosso único Senhor: esta festa seja de luz em suas vidas e renovem-se as mentes e os corações de todos contemplando a imagem viva de Jesus Cristo, o Bom e amado Jesus, o Filho de Deus que viveu entre nós, foi morto e ressuscitou.
Três perguntas acompanham minha reflexão:
a) Viemos numerosos para louvar a Deus e agradecer pelo Bom Jesus que amamos como único Senhor de nossa vida; mas, onde se fundamenta a nossa fé? Essa é a primeira questão que devemos constantemente nos propor; com outras palavras poderíamos dizer: por que eu creio?
O apóstolo Pedro – ouvimos na II leitura - escrevia em sua II carta: “Caríssimos, não foi seguindo fábulas habilmente inventada que vos demos a conhecer o poder da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares de sua majestade”. Pedro se refere à experiência do monte (como ouvimos no Evangelho) e à convivência com Jesus ao longo do seu ministério pelas estradas da Palestina.
Nossa escolha de seguir a Jesus Cristo e acolhê-lo como sentido último de nossa vida se baseia na qualidade do testemunho e das testemunhas. Aquilo que acreditamos tem seu alicerce na palavra de homens dignos de confiança, que testemunharam com o sangue sua pregação e tudo o que nos transmitiram; então, tem um sentido bem sólido.
b) Em que consiste a fé que professamos? Ela se resumo no Credo que, a toda eucaristia solene, nós professamos. Crermos em Deus Trindade santa, na Igreja comunidade fecundada pelo Espírito, sinal e instrumento do Reino para a unificação e santificação da humanidade; cremos no perdão dos pecados, na vida eterna em comunhão com todos os santos.
Crer significa acolher todas as verdades que a Igreja propõe, a partir da Palavra revelada, sobretudo, a partir de Jesus, Palavra eterna e humana do Pai; crer comporta um assentimento não só da mente, mas do coração e da vida, em busca de unificar, com coerência interior e exterior, a nossa existência humana. Então, eis a necessidade de maior e melhor conhecimento da Palavra, superando toda visão superficial e individualista. Nosso conhecimento de Deus e de sua Palavra, deve crescer com o tempo e a experiência de vida, oferecendo uma razão a tudo o que somos e fazemos, sobretudo dando rumo e sentido aos nossos dias terrenos e à nossa morte.  
c) Chegamos, assim, à terceira importante pergunta: como testemunhar hoje essa fé que recebemos e professamos? Em outras palavras: você afirma que crê em Deus, que é cristão, isto é, que acolhe Jesus Cristo como Senhor de sua vida, então, mostra-me como você vive essa sua fé? Nisso está o teste da qualidade e maturidade do nosso crer.
2. Nesses dias da Novena as reflexões propostas insistiram na urgência do testemunho de fé que os cristãos, batizados e ainda mais os confirmados, são chamados a dar com sua vida, robustecidos pela força do Espírito. Esse é o ponto alto, e tantas vezes – devemos reconhecê-lo – o ponto fraco da vida cristã. É bastante fácil dizer eu creio, eu sou cristão – eu sou católico, mas, de fato, acontece que, de frequente, vivemos de maneira tal que contradizemos o que afirmamos com as palavras. Vive-se, desse jeito, como que uma divisão entre fé professada e vida cotidiana, entre o credo que com a boca pronunciamos e o nosso estilo de vida.
Por isso, eis qual deve ser o nosso esforço, o nosso empenho e desejo: conhecer, amar e seguir testemunhando Jesus Cristo com a vida, buscando maior coerência naquilo que fazemos, nas palavras que proferimos, nos sentimentos e pensamentos que enchem nosso ser.
Por essa razão, em toda nossa amada Diocese, estamos levando em frente o projeto pastoral da Iniciação cristã, isto é, do caminho para nos tornarmos cristãos, trabalho de formação e vivência, que construa um alicerce mais sólido na mente e nos corações de todos os cristãos da nossa Igreja.
Não basta uma fé de hábitos sociais e do período das novenas; não é suficiente uma fé feita só de emoções e pedidos de curas; não basta uma religião de cerimônias e pedido de sacramentos. Tudo isso não é para descartar; digo só que nossa fé em Jesus ressuscitado é muito mais.
O apóstolo Pedro pede em sua carta para “acolher a palavra da profecia que fazei bem em ter diante dos olhos, como lâmpada que brilha em lugar escuro”. Significa que a fé deve iluminar nossa existência toda, dar sentido àquilo que somos e fazemos, acolher Cristo luz do mundo que transfigura nossos dias terrenos e abre para uma esperança de vida plena, desde já, não seguindo fábulas, diz o apóstolo, isto é, fantasias e ideologias humanas. Mas... quantas dessas fantasias e ilusões são distribuídas nas TVs e nos ambientes em que vivemos! E são muitos correndo atrás, pensando encontrar assim uma salvação que é barata demais para ser autêntica.
3. Hoje, contemplando o Bom Jesus¸ o nosso Senhor pregado na cruz, entendemos qual foi o preço que Ele pagou para nos salvar e para que compreendêssemos o sentido do verbo amar. A glória que resplandece n’Ele é glória alcançada a caro preço, com o preço de uma vida doada por amor, na fidelidade cotidiana, na absoluta coerência, no testemunho corajoso. Por aí deve proceder quem pretenda ser discípulo seu.
Afirmam as Diretrizes Geras da Ação Evangelizadora, ecoando o que disseram os bispos em Aparecida: “Precisamos realizar um encontro pessoal com Jesus Cristo, no cultivo da amizade com Ele pela oração, no apreço pela celebração litúrgica, na experiência comunitária e no compromisso apostólico, mediante um serviço permanente aos demais”.
Isso reafirmamos, e não é novidade. Novo e renovado deve ser o entusiasmo para seguir a Jesus Cristo de maneira mais coerente, corajosa e autêntica. Em minha última carta pastoral: Confirmados pelo Espírito a caminho com Jesus insisto pedindo a todos, padres, pais, educadores e aos mesmos jovens, para assumirem com renovado ardor missionário a formação cristã, a consciência da pertença à nossa Igreja, um esforço para torná-la mais bela e transparente, fiel à Palavra e capaz de testemunhar no hoje os valores do Evangelho, isto é, da acolhida sem preconceitos, da solidariedade sem exclusões, da fraternidade que sabe superar toda divisão e contraposição, da busca do bem comum e da justiça e transparência na política como nos negócios. Uma Igreja formada por seguidores de Cristo que não vivem acomodados em seus pequenos horizontes egocêntricos e mesquinhos, mas que respiram com os pulmões de uma experiência de Deus que converte, transforma e manda em missão.
Uma fé grande e forte que não teme o testemunho de uma vida compromissada com as grandes causas da justiça e da ecologia, da pureza pessoal e da denúncia corajosa de toda forma de opressão e exploração; uma fé que contempla o Senhor transfigurado nas montanhas da oração e uma fé que desce da montanha para se solidarizar com os humildes e pobres, os excluídos e explorados, os maltratados e usados só como apoio nas campanhas eleitoreiras. Cristãos que fazem experiência do Deus vivo e d’Ele aprendem a lei exigente do amar sem medida e sem hipocrisia, sem falsidades e ambiguidades mas, ao contrário, com total doação e dedicação, apesar das limitações humanas e pessoais.
O prefácio dirá: “Desse modo, como cabeça da Igreja, Jesus manifestou o esplendor que refulgiria em todos os cristãos”. Peço a Deus que esse esplendor os ilumine. Hoje, voltemos para casa transfigurados e transformados, por que decididos em abraçar uma vida mais verdadeira, transparente e coerente com tudo o que aqui manifestamos e professamos.
Maria, Nossa Senhora do Livramento, interceda junto ao Filho, o Bom Jesus, para que tudo isso se realize e acontecer em nossas vidas.